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Opinião | No Carnaval e no resto do ano: não é não

Opinião | No Carnaval e no resto do ano: não é não

Tradicionalmente conhecido pelo clima de paquera e relacionamentos sem compromisso, cresce o número de violência contra a mulher no período 

Por Natália Lins

Se diariamente vimos milhares de casos de violência contra a mulher, no Carnaval esse número fica ainda maior. Em meio a confete e serpentina, o machismo se faz presente de diferentes formas, seja na banalização do corpo feminino ou no assédio sexual. Muitos colocam a culpa no álcool, mas nós sabemos que isso não pode ser desculpa.

Em 2015, o Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, registrou 1.158 casos de violência contra a mulher só no Carnaval. Esse número infelizmente teve um aumento de 174% em 2016, já que as denúncias chegaram em 3.174 no mesmo período. A Bahia ficou em 4º lugar do ranking nacional com 223 ocorrências registradas em todo o Estado.

Neste ano, o slogan da campanha da Câmara Municipal de Salvador é: “Salvador: Carnaval da Alegria, da Música e do Respeito à Mulher”, uma tentativa de contribuir para a redução dos índices de violência durante as festas e também conscientizar a população sobre os direitos da mulher.

Festas como o Carnaval são tradicionalmente conhecidas pelo clima de paquera e relacionamentos sem compromisso. E todo esse "desprendimento" pode ser confundido com liberdade e a falsa ideia de que tudo é permitido, tornando o abuso algo aceitável, afinal, é Carnaval. Não, não é, desde que você não queira. Curtir uma festa em local público não torna o seu corpo público e também não significa que ele está à disposição.

A fim de debater essa questão, a fotógrafa e publicitária Julliane Albuquerque, do Rio de Janeiro, criou o ensaio chamado Alegoria. Nele, ela utiliza elementos típicos do Carnaval para mostrar a violência contra a mulher de diferentes formas. As cores e apetrechos característicos da data, são transformados em machucados e hematomas.

A maioria das mulheres costuma se preocupar com a roupa que veste, os lugares por onde passa e até o que fala, para não "dar motivo". Imagina no Carnaval? Pois é, muitas deixam de fazer e ser o que gostam e querem para evitar um possível abuso. E quando essa tragédia acontece, são vários os motivos pelos quais as vítimas desistem de denunciar: medo, proximidade, dificuldade de identificar, trauma ou receio de não acreditarem nelas.

Mas se os números de violência cresceram a quantidade de blocos e bandas que lutam pelo fim da violência de gênero e visam o empoderamento feminino também. Só no ano passado surgiram, em várias cidades pelo país, blocos como as ClandesTinas, Pagu e Feminista Vaca Profana, além do Mulheres Rodadas, A Mulherada e Despirocadas. Isso prova que as mulheres estão cada dia mais unidas e dispostas a acabar com essa situação de uma vez por todas.

Por isso, se você vai sair com os amigos nesse Carnaval, e pretende encontrar várias "gatas", lembre-se muito bem dessa frase: Não é não!
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